Pornocrônica

Desde que cheguei à banca não se vendeu mais nenhum exemplar das revistas e dvds pornográficos. Não por eventual ataque de moralismo da jornaleira. Talvez por constrangimento dos clientes.

Pra quem não conhece, banca vende revista em consignação. Devolve o que não foi vendido. É um trabalho miúdo, chato e importantíssimo o da devolução do que ficou encalhado. Não devolveu, pagou.

Na semana passada, sumiram dois exemplares do Guia do Orgasmo Feminino. Dele e só dele. Se eu soubesse que eram objeto de desejo, tinha exposto as obras em lugar de mais fácil acesso.

Para não constranger os senhores, as senhoras e as crianças que frequentam a banca, os títulos picantes ficam no ponto mais alto da prateleira, num canto onde só os olharem mais desejosos conseguem alcançar.

(Pornoparênteses para alguns dos títulos: Alucinada por frango assado, Traveca na escadaria do prédio e O importante é botar na urna são alguns dos títulos disponíveis. Seriam pornográficos, não fossem bisonhos.)

Na respeitável banquinha da 308, o que mais se vende são palavras cruzadas, seguidas de revistas de celebridades. Fico pensando que, quando não houver nem títulos safados nas bancas, haverá palavras cruzadas. É o papel para além da leitura. Há um jogo lúdico que envolve o tato e a escrita, a caneta e o papel, o raciocínio e a abstração do manuscrito que talvez deem mais longevidade aos impressos.

Já tentou fazer cruzadas online? Parece uma viagem do nada a lugar nenhum. É onde o virtual se realiza no que de mais vazio ele tem. Como o Sexo tecnológico, título de uma das matérias pornôs.

E se os adultos fazem de conta que não veem as revistas pornográficas, as crianças tiram proveito. Dois meninos, de aproximados sete anos, chegam à banca com o pai, compram chiclete, folheiam gibis, mangás e revistas de games. Pouco antes de sair, um deles cutuca o outro e lança o olhar para as publicações proibidas. Gargalham. Entram no carro e pedem, já longe da senhora jornaleira: Pai, compra a revista da mulher com a bunda de fora! Mais gargalhadas.

 

 

 

Um comentário sobre “Pornocrônica

  1. Pudera né Conceição? Com o advento do sexo total na web (onde se encontra de tudo e de todos), até mesmo a Playboy desistiu de estampar mulheres nuas em suas páginas, tamanha desleal concorrência. Vamos ver se os homens continuam comprando a revista pela excelência de suas entrevistas, como era sobejamente alardeado por aqueles flagrados com um exemplar na mão. Eram tempos mais românticos…

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